terça-feira, 25 de novembro de 2014

A luta do homem

Acabei de ver o final do filme Danação – Bela Tárr (1988), um homem confronta um cachorro (assim como em Satantango na famosa cena de luta da menina com um gato), o homem persegue-enfrenta seu lado animal.
Pelo menos é isso que ficou pra mim.
E hoje vi Boyhood e foi como se a minha vida espelhada na daquele menino passasse diante de meus olhos, em apenas 3 horas... uma juventude inteira.
Folheio minha agenda com frases de escritores e artistas e encontro essa, de Guimarães Rosa - "viver é rasgar-se e remendar-se"...
Tenho sentido isso na pele, e desde que moro em São Paulo o sinto potencialmente.
E os movimentos da vida, a roda da fortuna, os altos e baixos, as quedas e os vôos, tudo repleto de concreto. Andei pensando em muitas coisas e fazendo pouco quanto as minhas novas reflexões, em geral a gente se atém a uma velha forma, a um velho hábito... e quando se percebe já virou mania, apego.
Agora há praticamente 1 do Natal, prestes a acabar o ano, tenho vontade de me reformular. Sim, pode parecer forçado e radical, querer mudar assim do dia pra noite, mas parece que já venho há um ano tentando e tentando...
A mudança que pretendo fazer atinge vários graus - físico, mental, espiritual... Mas ela vai se dar aos poucos, pra não ferir ninguém, aliás as coisas que pretendo trazer pro meu dia-a-dia, creio eu, só me farão bem e com isso bem aos outros ao meu redor.
E acho que fim de ano serve pra isso mesmo, pra refletir, fazer aquele balanço e programar um ano novo melhor!
To afim de fazer muitas coisas diferentes, e de maneiras diferentes também, a começar pela alimentação e pelos lugares que frequento, cuidar mais de mim, do meu interior, de dentro pra fora. Depois espalhar isso pra outras áreas - estudar mais, procurar ser útil e servir...
Enfim, esse desabafo público aqui é mais pra deixar constado que quero mudar, e pra depois alguns de vocês não se assustarem, caso eu vire vegetariana, budista ou simplesmente uma pessoa mais calma e de bem com a vida... Não pretendo me colocar em nenhuma turma, seita, rótulo e sim, recompor, reciclar e principalmente, esvaziar.
Jogar fora tudo que não serve e não presta mais.
Abrir espaço pra coisas novas, pensamentos, projetos, sonhos...
Espero que meus amigos e familiares me apoiem e não vejam como mais uma tentativa engraçada de fazer diferente, ou algo que se localize apenas no feeling hashtag retrospectiva 2014, fim de ano, ano novo vida nova...
Bom, tentar não custa nada e só de colocar tudo no papel já me animo!
E podem vir me cobrar também, pra ver se estou dando conta! E quem sabe eu até possa registrar meus dias mais motivadores no meu antigo blog de viagem - aquele que usei quando fui pro Chile e pra Dinamarca... antigos seguidores vão adorar!
Bom, agora é FÉ EM DEUS E PÉ NA TÁBUA...


PRA FINALIZAR, AQUI COLOCAREI UM PEQUENO POEMA QUE ACABEI DE COMPOR, SOB O MESMO TÍTULO DESSA POSTAGEM - "A LUTA DO HOMEM"

"Com seu lado animal, luta ferrenha
Com o vazio e a impermanência,
luta
e por isso faz arte.
Luta por necessidade
e assim sobrevive e sonha.
O amor é o próprio carma do homem -
dá o que precisa, não o que quer,
repete e volta várias vezes
até se desapegar por completo.
Sublima como fumaça roxa,
ascende aos céus.

--

Fui...

quinta-feira, 20 de março de 2014

Primeiro dia de Outono.
Prêmio shell pra melhor diretor anteontem pro Antunes, pela "Nossa Cidade".
Em busca de uma expressão, eu persisto, no teatro...
Dia após dia, com pessoas que passam por mim, como escada rolante.
Vazio da vida que era...

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Em Brasília...

Festival Solos Férteis - Encontro internacional de mulheres no teatro

Brasília - DF - 10 a 16 de Setembro de 2012...

Me sinto nova e disposta para o trabalho como uma criança, uma folha em branco, cheia de vontades de ser preenchida e de pintar cores coloridas, flores e nuvens.
Me sinto feliz por poder colher estas sementes em solo brasileiro. Me sinto perto de casa e de quem amo e isso me conforta. Entretanto, a vida é um jogo de riscos e devemos nos aventurar para descobrir as armadilhas e dançar entre elas, ouvindo o eco que nos dá aos nossos risos...

Sim, estou toda poética e alegre, com vontades de poder ser tudo! Ser atriz, me encontrar num personagem escondido aqui dentro, em várias vozes, polifonia unipessoal, musical de escalas e escadas de sentidos, de identidades, formas e propostas.
E isso é quase um ritual para agradecer ao dia lindo que se abriu como flor, hoje, nesta manhã de terça-feira em Brasília, no segundo dia do festival que já na abertura, abriu caminhos para encontros entre grandes mulheres. Pra mim que estou em busca da delicadeza, é uma oportuna abertura.

Venha o que vier, estou RE.COM.EÇAN.D.O

sábado, 1 de setembro de 2012

Feliz Aniversário!

FELIZ ANIVERSÁRIOOOOO!!!

MAMIS!!!
VÓ BELA!!!
MAURÍCIO!!!

AMO VOCÊS TODOS! VOCÊS MERECEM TUDO DE BOM! COMO UMA VISTA DESSAS...


quinta-feira, 30 de agosto de 2012


Estou aqui no trem indo pra Copenhagen.
A Odin Week acabou, depois de 10 dias intensivos com pessoas de vários países do mundo.
Terminamos com estilo, um final de tarde maravilhoso na praia e uma baita festa de despedida, onde eu cantei garota de Ipanema, sambei e brinquei com meus amigos e companheiros de casa.
Uma casa encantada, cheia de adereços do mundo todo, cheia de energias de pessoas importantes que passaram por ali. O quarto fechado onde o Grotowski costumava dormir, o escritório de cada um dos atores, as partituras onde faltava o Togeir, ator que esteve no Odin Teatret desde o início e que nos deixou faz poucos anos.
Sentiamos ao mesmo tempo um sufoco, com o programa tão lotado de atividades e com tantas conversas em idiomas diferentes onde cada coisa nos exigia uma atenção grande. 
Mas foi uma experiência maravilhosa, forte, com tantas peças que deixaram muita coisa a ser processada dentro de nós. Agora, fica uma sensação de gratidão, pela grande doação desses artistas ao Odin e a todos nós.

Agora a viagem segue para um momento final em Copenhagen, vou ter a chance de conhecer mais uma Capital, mais um lugar cheio de encantos, de história, arte, cultura, passeios que pedem serem feitos, conhecimentos a serem colhidos em caminhadas, na observação da vida.

Deixo a vocês as fotos desses últimos dias, sabendo que ainda muitos laços podem acontecer e permanecer para que essas pessoas tão únicas e especiais em seu caminho no teatro e na dança, possam trabalhar juntas em próxima oportunidade, ou simplesmente encontrarem-se nas ruas, nas praças, nas feiras.

Obrigada Odin, foi muito bom. A experiência foi realmente grande, preciso agora levar em frente meus projetos e desejos, inspirados pela força de sua presença.






sexta-feira, 24 de agosto de 2012

No meio da noite...

5 dias se passaram...
Metade da jornada se foi. Agora, muitas coisas mudaram.
A adaptação à comida, às pessoas, aos atores e às salas de ensaio fez com que descobertas surgissem. Em meio a uma programação super completa, com treinamento físico às 7h da manhã todo dia, com café da manhã depois, seguido de outro treino e um work demonstration, almoço, limpeza do teatro, encontros com os atores que nos repassavam sua Odin Tradition particular, encontros com o Eugenio Barba seguidas sempre de perguntas e respostas, jantar, peça.
Essa agenda cheia de calor, frio, suor, cansaço, dor, insights, dúvidas, construções e desconstruções, me deixou com tanta informação nova na mente e no corpo, que não consegui simplesmente escrever o que vivenciei a cada dia. Além do cansaço físico, do sono após tantas atividades, que até mesmo conversar e dialogar com os amigos tem determinado horário - no ônibus a caminho da janta, no meio da janta, na fila do almoço... Em meio a tantos idiomas e encantamentos e desencantos. Algo acontece. Entro em contato com o Odin Teatret.
Agora posso dizer que sei do que se trata, apesar de ver apenas o pico do iceberg, como disse uma atriz brasileira que está pesquisando com a Júlia, da qual fiquei amiga. Enfim, conheço o rosto dos atores e do diretor, reconheço suas vozes e de alguns, (ou algumas, porque as mulheres aqui exercem um grande peso) sua identidade em cena. Infelizmente (ou não) chegamos a perceber os clichês, estes, contra os quais todos nós enfrentamos no dia-a-dia, e do qual, de certo modo, eles fizeram sua marca, sua presença ser ainda mais sólida, apesar da resistência, da vontade de não estagnar.
Conheci pessoas realmente entregues ao trabalho, dedicadas não só profissionalmente, mas completamente identificadas e encorporadas no teatro que é a sua vida, seu amor. E é esta sensação que temos ao presenciar as apresentações, por mais que discordemos da estética, por mais que o tom da voz nos desagrade.
Esses atores já tem sua idade. E que por um lado, permite que sejam maduros em cena, que segurem as rédeas de seu instrumento: corpo - voz - imagens.  Mas a gravidade exerce seu efeito, o cansaço aparece, e isso torna tudo mais impressionante ainda. Estamos presentes em sua fragilidade, algo que tentamos disfarçar, esconder, mas que é tão poderosa e mobilizante.
Sinto falta de vocês, da minha família, do meu amor, dos cheiros e gostos do Brasil. Agora só falta mais metade, mas não estou contando o tempo, de jeito algum. Cada dia que passa aperta meu coração, pois este é o tipo de situação que gostaria de congelar em um vidro de cristal, para prová-la um pouquinho toda vez que sentisse sua falta. Mas as coisas não funcionam bem assim...
E temos feito de tudo! Dançando orixás com o Augusto Omolú, treinando atenção, ação, olhar, ressonadores e tudo o mais com Roberta Carrieri, aprendendo a escutar e aprendendo história do teatro com Eugenio Barba, e até sendo dirigidos pelo compositor do grupo em uma espécie de cena muito ridícula, onde cantamos várias vezes "In the middle of the night"...
Gravei algumas coisas, anotei outras, e em muitas estive bem presente, simplesmente apreendendo com todos os meus sentidos. Fui agraciada por fazer uma pergunta inteligente ao Eugenio Barba, sobre a tradição do Odin e do teatro e receber de resposta, além de duas histórias bem interessantes, uma frase final como: você é a tradição do teatro!
Enfim...
Ainda muitas coisas nos aguardam, como um Barter - que é uma espécie de composição em grupo de poesias, músicas e outras pequenas performances de 2 minutos cada, que alguns de nós preparou e mostrou ao Kai Bretold hoje (eu cantei de dancei bumba meu boi bumbá) e que ele vai reorganizar para mostrar a um grupo de idosos que fazem teatro com ele, na segunda feira!
Quanta coisa pra decantar!
E terei que ficar aqui na Dinamarca ainda por quatro dias, depois de tudo acabar, e aí sim poderei fazê-lo, ainda não sei como.
Mas por enquanto, fiquem com estas minhas palavras e com as fotos que tirei do nosso ambiente cotidiano!

Beijos com saudades,






segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cheguei! ou... O primeiro encontro!

São 7h45 da manhã e eu acabei de tomar meu café da manhã dinamarquês!
Gente!!!!!!! To aqui!!!!
To tão feliz e tão extasiada! Ainda meio amortecida pelo choque do primeiro encontro. Que foi ótimo! Mas é tão forte chegar aqui... Primeiro por toda a aventura que tive que passar pra conseguir me fazer entender entre esses nórdicos e ter certeza que eu estava no trem certo, e apesar de toda a ajuda do mundo, dos meus pais, dos anjos da guarda e do destino, não foi fácil chegar aqui. Depois porque eu estava muito ansiosa e cheia de expectativas de entrar em contato com os caras que estudamos e lemos nos livros de modo tão distante, tão sublimemente acima de nós, mas que na verdade são artistas como a gente... Com as dificuldades do ofício, mas com conquistas grandes, com trabalho duro e dedicação integral ao teatro, permitindo realmente chegar onde estão hoje em dia...
Ah... Sentei e chorei. Claro que tive que me segurar ao máximo, pois ao meu redor, todos esses jovens artistas felizes e conversantes ficariam assustados. A vontade que eu tinha era de gritar, espernear, fazer um escarcéu. Sair abraçando todo mundo... Mas claro que não fiz nada disso. Cumprimentei a todos, sorri, alguns vieram ver se eu estava bem quando devo ter ficado vermelha e com a cara de maluca chorona, mas de resto foi ir ao banheiro, lavar o rosto, respirar fundo e me tranquilizar.

Daí eu ganhei uma pastinha amarela cheia de programas das peças, regras da casa, uma carta linda de boas vindas que foi uma das minhas detonadoras de choro também, e outras coisas...

Guardei minha mala na cozinha rapidamente porque só faltavam uns 15 minutos pra começar a conversa com o Eugenio Barba. Fui uma das últimas a chegar. Mas cheguei, consegui. Aqui estou! E muito feliz, estou sentindo que será uma baita experiência. E já pude testemunhar um pouquinho dela ontem.

Ontem às 17h começou o encontro com o Eugenio Barba. Estávamos sentados numa salinha, em roda. Ele entrou, vários de nós sorriram e pararam o que estavam fazendo, aquele silêncio... E ele quebrou o gelo e nos convidou pra sentar lá fora na grama sob o sol. Estava bem quente mesmo e ele nos deu boas vindas seguidas de quatro perguntas que deveriam ser respondidas por todos:

1 - Sua relação com o teatro, há quanto tempo faz teatro.
2 - Se faz parte de algum grupo, companhia.
3 - Como ficou sabendo do Odin Teatret
4 - Se já vimos alguma performance deles.

E essas quatro perguntinhas renderam... Apesar de ele pedir pra sermos breves. Mas o grupo é grande e cheio de pessoas cheias de experiências diferentes. Não só atores, mas dançarinas, cantores, escritores, um jornalista e uma crítica...
Além deste grupo de fora, de várias partes do mundo, que veio fazer o curso completo aqui, existem alguns assistentes que estão aqui no Odin fazendo estágio, trabalhando como voluntários, aprendendo com os atores ou fazendo trabalhos pro teatro, limpando, ajudando na organização dessa grande estrutura.

Depois fomos jantar. Um ônibus nos pegou aqui na porta do Odin e nos levou até o "Centro de Atividades" - uma espécie de espaço para eventos. Lá jantamos uma comida bem gostosa, conversamos, nos conhecemos. Voltamos e já ficamos no corredor para esperar a entrada pra primeira apresentação do Odin Week Festival - que também é aberta ao público Dinamarquês. Naquela mescla de línguas e conversas multiculturais, esperávamos pra ver "A vida crônica", uma peça sobre um menino colombiano que busca seu pai desparecido na Europa. Enquanto pessoas diferentes: uma viúva de um combatente vasco, uma refugiada chechena, uma dona de casa romana, um advogado danês, um músico de rock das ilhas Faroeidio, uma violinista de rua italiana e dois mercenários, passam e interagem nesse ambiente formando uma composição linda cheia de canções de idiomas distintos e grandes atuações.

Começamos o dia bem. E hoje temos um longo dia pela frente.

Assim que der vou arranjando um tempinho aqui e acolá para reportar minhas experiências a vocês.

Até a próxima, então. Mas antes, fiquem abaixo com a carta de boas vindas que recebi, escrita em espanhol mesmo.

Queria Sheila,
Bienvenida al Odin Teatret. Esta es tu casa, la hemos construido para ti durante casi medio siglo. Está colmada de historia, experiencia, energía. Difruta de tu estadía, sé escéptica y entusiasta, severa e indulgente. Y sobre todo sé astuta: aprende a aprender. No te dejes seducir.
Durante los pocos días que estarás con nosotros da el máximo, como lo ha dado cotidianamente cada uno de nosotros edificando, piedra a piedra, esta isla flotante de libertad e intercambio. Dentro de unos días la dejarás. Sábela olvidar, quemándola en tu mente y con tus acciones. Pueda el incendio acrecentar tu pasión para hacer el teatro de tus sueños. Las cenizas al viento indicarán tu camino.
Recuerda solo esto de nosotros: siete veces a tierra, ocho veces en pié.

Eugenio Barba.